quarta-feira, 30 de abril de 2008

Esquizofrenia Fellinis

Há dois anos recebi dois pacientes no meu consultório. Apresentavam ideias delirantes, episódios sintomáticos de distanciação da condição humana que os abrangia.

Sentados nas cadeiras, lambiam as mãos e esfregavam-nas depois no nariz e nos olhos.

Estávamos perante um caso de esquizofrenia fellinis.

Depois de um longo diálogo, conseguido em várias consultas, os indivíduos admitiram ter adquirido uma camada de pêlos amarelados que fixaram com cola à pele havia quatro anos. Admitiram ainda ter substituído a fala, quando em interacção com outros indivíduos, por grunhidos de uma sílaba só.

Este era um caso perdido. Os indivíduos apresentavam agora o sintoma final da doença: começavam a ronronar.

Faz hoje dois anos que os pacientes foram internados num hospital psiquiátrico em Lisboa. Visito-os ainda, semanalmente, e é com gosto que os vejo saudáveis (embora alheados do mundo) descansando na relva do jardim da Ala Sul.

1 comentário:

pegueitrinquei disse...

Jeeezzz!

Há coisas do camandro...