sábado, 31 de janeiro de 2009

Sábado

Sábado triunfaremos sem patologias de verdade
Lançaremos dez planos em miragens existenciais
Ao sábado mudar-se-á a vida e a vontade
Seremos crianças brincando com os pais
Descansamos, reunimos e vamos ao mercado
Quando sonhando profetizamos os Sábados dos dias
Há laranjas, esquizofrenias e peixe lascado
E os indivíduos fazem malabarismo com melancias
Ah, reminiscência que oprime meu coração!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Jazem ainda na minha secretária

Três casos patológicos bastante complexos.

Partilho convosco, caros leitores, um deles:

Um indivíduo, estudante numa universidade que lecciona as Letras, apresenta uma potencial esquizofrenia atípica que anda de mãos dadas com a quantidade de livros, teorias e pensadores que tem estudado ao longo dos últimos três anos da sua vida. Este indivíduo tem episódios paranóides disténicos reminiscentes. Na consulta que teve lugar há dois meses e meio, o indivíduo apresentou-se envergando um fato-macaco azul escuro julgando viver numa distopia. Noutra consulta mais recente insistia em dialogar comigo somente por meio de citações: "como diria Nietzsche" ou "como diria Hegel". Na última consulta apresentava um estado avançado de ideias delirantes, uma linha de raciocínio bastante confusa misturando ideias do que me pareceu ser Heidegger, Simmel, Jankelevitch e Santo Anselmo. Além de todos estes sintomas, o indivíduo em questão sente-se recorrentemente perseguido pelos professores que leccionam as cadeiras afirmando que estes têm por hábito torturar lentamente os alunos desprovidos de contactos importantes na universidade, vulgo cunhas.

Torna-se complexo ajudar este indivíduo sem o encaminhar para o Doutor Lourenço. Contudo, gostaria primeiramente de tentar uma solução terapêutica para este paciente que não envolvesse medicação.

Aceito, caros leitores, as vossas sugestões na resolução deste caso.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Porque ninguém explicaria melhor

Caros leitores,
Se a falta de imaginação está comigo (juntemos-lhe três casos patológicos bastante complexos na minha secretária), resta-me deixar-vos uma pequena reflexão de um escritor e pensador fundamental:

Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim uma é fácil e a outra é difícil. A diferença é uma fórmula, a originalidade é uma forma ou mais do que isso um modo de se ser. Para se ser diferente vai-se ao alfaiate ou à modista. Para se ser original vai-se ter com Deus no momento de nos fabricar. É fácil escrever-se sem pontuação ou com pontos e vírgulas em vez de pontos finais, ou escrever com minúsculas depois desses pontos, ou atirar com as palavras à arrebatinha e dispô-las como caírem, ou escrever ondeado em vez de a direito, ou cortar a prosa aos bocados e dispô-los em vários tamanhos, ou deixar as páginas em branco ou a preto, ou fazer qualquer sorte de piruetas como um palhaço de circo. Agora o que é difícil é sentir de um modo novo, recriar um mundo por sobre o que já foi recriado, ver o que os cegos constitucionais não enxergam. Pôr seja o que for de pernas para o ar não deixa de ser o mesmo por estar ao contrário. E se se usarem óculos inversores, ele volta a estar de pernas para baixo. Mas o escritor ou qualquer artista original torna visível um dos possíveis invisíveis para uma nova visibilidade. E essa nova visibilidade é que é diferente na maneira profunda de o ser. Ou então diremos de alguém que não é original mas um original. É o que dizemos habitualmente e com suavidade de um tipo apancadado. Somente se o dizes de um palhaço da arte o apancadado és tu.

Vergílio Ferreira (no livro Escrever)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Caros leitores,

Com a ajuda do Doutor Lourenço, as minhas canções têm agora um lar:
www.myspace.com/doutorateresa