quarta-feira, 30 de abril de 2008

Esquizofrenia Fellinis

Há dois anos recebi dois pacientes no meu consultório. Apresentavam ideias delirantes, episódios sintomáticos de distanciação da condição humana que os abrangia.

Sentados nas cadeiras, lambiam as mãos e esfregavam-nas depois no nariz e nos olhos.

Estávamos perante um caso de esquizofrenia fellinis.

Depois de um longo diálogo, conseguido em várias consultas, os indivíduos admitiram ter adquirido uma camada de pêlos amarelados que fixaram com cola à pele havia quatro anos. Admitiram ainda ter substituído a fala, quando em interacção com outros indivíduos, por grunhidos de uma sílaba só.

Este era um caso perdido. Os indivíduos apresentavam agora o sintoma final da doença: começavam a ronronar.

Faz hoje dois anos que os pacientes foram internados num hospital psiquiátrico em Lisboa. Visito-os ainda, semanalmente, e é com gosto que os vejo saudáveis (embora alheados do mundo) descansando na relva do jardim da Ala Sul.

A janela e o fim da tarde

O final da tarde e o barulho dos pássaros nas árvores, tudo isto me traz reminiscências de estar-se de férias enquanto se punha a mesa para o jantar no terraço e as mães grelhavam peixe e entrecosto, enquanto a brisa agitava os guardanapos.

É a hora das gentes voltarem a casa dos trabalhos.

Avisto um homem de gabardine bege e pasta na mão que deve vir da empresa e penso que se calhar é bom vir da empresa e chegar a casa. Ou se calhar não é bom nem mau o que torna a coisa boa na mesma.

Vejo passar pessoas na rua que se vê do meu escritório. A rua acompanha a janela e parece que vejo um quadro em movimento ou uma passagem de modelos de pessoas normais que, em vez de exibirem indumentárias atípicas, mostram um trecho da vida a quem a apanhar. Vejo-as de lado e acompanho-lhes os passos, mais lentos, mais rápidos, mais pesados ou molengões e as costas, mais direitas ou mais tortas. E não lhes traço perfil algum.

sábado, 26 de abril de 2008

Que motivação?

Num livro que leio especula-se acerca do motivo pelo qual nos relacionamos uns com os outros.

Que motivação por trás dos relacionamentos?

Dizem que é a necessidade intrínseca de contacto físico, a atracção por um outro organismo, a fim de certificar-se, junto ao outro, de que se é aceite (...) especialmente válido quando o organismo está emocionalmente perturbado, sobretudo quanto à sua auto-avaliação. Os sentimentos de auto-aceitação podem originar-se pelo contacto físico ou através da comunicação de sentimentos ou atitudes.
Procura-se companhia na angústia para estabelecer comunicação de reacções emocionais.

A psicologia das sobracelhas

São muitos os investigadores, em particular na Inglaterra, que se têm dedicado à abordagem das sobrancelhas enquanto espelho reflector das angústias e bipolaridades do indivíduo.

Existem duas correntes distintas.

A primeira defende que a sobrancelha é definida à nascença, não havendo lugar para mudanças evolutivas ao longo do percurso existencial.
A segunda explora e estuda o crescimento dos pêlos no contexto ambiental (em que a interacção social contribuiria para o sentido de crescimento dos pêlos nas sobrancelhas e assim definiria determinado contorno de acordo com as vivências de cada um).

É certo que as sobrancelhas muito arqueadas reflectem fenómenos interiores de histeria, neurose caracterizada por instabilidade emocional - facto que tenho vindo a avaliar pela observação continuada dos meus pacientes no consultório.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Começo (acaso ser neste dia)

É com gosto que inicio hoje mais uma parte da minha vida, partilhando-a com os que quiserem acompanhar as minhas deambulações por palavras e comportamentos humanos observáveis.
Daqui para a frente, à parte das minhas publicações já editadas, darei um modesto contributo sobre a evolução psicológica do Homem no Portugal de hoje, repleto de contemporaneidade de mesclas obssessivo-compulsivas.

Que todos possamos comunicar e indagar com curiosidade, é o propósito primordial.

Como diz o Doutor Lourenço, meu colega de profissão, é na comunicação que surgem âmbitos freudianos de contemplação do eu e do outro como indivíduo solto e vinculado ao ambiente que o rodeia.