sexta-feira, 30 de maio de 2008

Maio Invernoso

Época fortemente marcada por conturbações psicológicas.

As depressões sazonais deixam de ser sazonais.
Arrastam-se por Março, Abril, Maio.
Arrastar-se-ão, quem sabe, por Junho, Julho ou Agosto.

A recuperação não chega a ser plena pois em Outubro regressa.

Pouca importância se dá ao impacto das alterações climáticas nos indivíduos que sofrem de depressão sazonal.

Época fortemente marcada por conturbações psicológicas.

Não só no consultório.

domingo, 25 de maio de 2008

domingo, 18 de maio de 2008

Domingos

Hoje de manhã tomavámos chá, eu e o Doutor Eduardo, quando, no meio de uma conversa sobre a existência conturbada do Homem, ele proferiu esta frase:

"O Homem sente-se infeliz por não contemplar a existência enquanto fulcro de sensações sensoriais abstractas."

sábado, 17 de maio de 2008

Sessões transcendentais I

Saudações Doutora Teresa.

Leio atentamente o seu blog e como tal acedi à sua proposta de lhe enviarmos as nossas conturbações psicológicas... ainda que seja difícil, confesso.
A minha conturbação é estranha ... sinto apoderar-se de mim com rigor, de dia para dia, com maior intensidade de manhã. Consiste em dizimar pessoas que noto estarem contentes, sobretudo quando o tempo está ameno. Nestes dias chuvosos não sinto essa tendência tão vincada...o vento desorienta e a minha figura franzina facilmente se deixa levar por aragens mais fortes.
Bom, continuando, os indivíduos costumam ser jovens, situados ao ar livre, sozinhos ou acompanhados e dizimo-os com uma marreta que certeiramente lhes bate na parte de cima da cabeça matando-os de imediato.
Das várias vezes que contei aos meus amigos eles não acreditaram, o que me impressiona ainda mais. É verdade que os corpos dos dizimados não foram noticiados e é um costume meu ler jornais e ver televisão...A polícia não me prendeu nem veio procurar-me, o que creio dever-se ao facto de eu ser invisível, condição que permite que as pessoas não tenham oportunidade de reflectir antes de serem dizimadas...

Bom...creio já ter exposto o suficiente...aguardo o seu comentário ou esclarecimento...

Soares

Bom, parece-me que o Sr. Soares padece de três sintomas que formam em conjunto uma patologia sintomatológica rara.

Em primeiro lugar, deverá recordar as suas experiências de infância pois parece existir um recalcamento em relação à felicidade que acaba por resultar num comportamento de transgressão.
O Sr. Soares demonstra uma acentuada tendência para o abismo.

Outro dos seus sintomas é a invisibilidade. Indivíduos que padecem de invisibilidade têm uma propensão genética para se deixarem afectar por esta patologia, mais ou menos a partir dos 25 anos quando entram na idade adulta. Corrija-me se eu estiver a mentir e se por acaso a perturbação começou na adolescência.

Noto ainda algum cepticismo por parte dos seus amigos em relação aos seus feitos. Há que realçar que esta patologia é marcada por um afastamento e abnegação das relações humanas de carácter emocional com os outros, isolando o indivíduo e conduzindo-o a uma espiral de dor e sofrimento marcada pelo sentimento de que não se é compreendido.

Assim, recomendar-lhe ia psicoterapia grupal com indivíduos com perturbações semelhantes. Aqui na psicologia não gostamos de rotular os pacientes por isso pergunto-me se será necessário ou relevante revelar-lhe o nome técnico da sua patologia.

Para reduzir a invisibilidade, aconselho o uso de indumentária colorida pois poderá contribuir para o apaziguamento da patologia, e para um crescendo das interacções sociais permitindo-lhe ter uma vida normal. Deverá ter em conta que seria bom evitar prolongar-se em parques e bosques, evitando aperceber-se de pessoas felizes à sua volta em tempos amenos.
Deve aproveitar o Inverno, os dias frios e chuvosos para fazer a sua vida normal, já que não sente o impulso vital nesses dias.

Uma das estratégias poderá estar ainda em fazer terapia em cidades nórdicas como Londres, Estocolmo ou Oslo.

Espero ter sido concisa e ter ajudado.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Descobrir

De tarde, observei de muito perto um pombo no beiral da minha janela.
Vi-lhe a plumagem repleta de falhas e descuidos, os olhos cor-de-laranja-vivo que piscavam como piscam os nossos e o bico que abria de vez em quando.

A semelhança entre o pombo e o Homem.

Assisti, às oito horas e vinte e nove minutos ao acender dos candeeiros na rua.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sessões transcendentais

Leitores,

Inauguro hoje aqui uma rubrica intitulada Sessões transcendentais onde o leitor pode relatar-me quaisquer conturbações psicológicas.

Todas as sextas-feiras seleccionarei um dos textos e comentá-lo-ei.

Deixo-vos o meu contacto do lado direito.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Em tempos livres

Além de Freud, dos lanches à beira Tejo, das aulas de esgrima e da observação dos indivíduos, uma das minhas paixões é musicar sobre o quotidiano e sobre as vivências do ponto de vista de uma psicóloga.

Porque ontem foi quarta-feira, deixo-vos com uma das minhas canções na esperança de que vos traga reminiscências primaveris de outrora.

Gostaria de agradecer à Doutora Isabel, minha amiga e colega de profissão, por ter participado nesta canção fazendo segundas vozes.
A Doutora Isabel, licenciada em psicologia ambiental, colabora no coro de Santa Luzia dos Unidos há quatro anos apresentando capacidades vocais muito interessantes.

Numa tarde solarenga junto ao mar, sem nada que fazer, a Doutora Isabel e eu conversávamos sobre a psicologia imobiliária. Depois de um chá no meu apartamento, peguei na guitarra e comecei a cantarolar sobre o meu ritual das quartas-feiras.
Doutora Isabel, com muita amabilidade, juntou a sua voz à minha composição.

Espero que apreciem este pequeno trecho.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Consultório

E depois de um dia passado a ajudar os outros, ainda sobra tempo para um sumo de laranja natural no café do Sr. Carvalho enquanto se olha o sol que reflete no Tejo pálido, deixando antever a vida do lado de lá, através de fábricas e montes ligados até a este lado por pontes.

Horizonte

Aí já me atraía ir para longe, e parecia-me que se fosse sempre em frente, se andasse muito, muito, e ultrapassasse aquela linha, aquela onde o céu se unia com a terra, talvez estivesse lá a solução, e eu depararia logo com uma vida nova, mil vezes mais forte e ruidosa que a nossa.


Dostoievski, O Idiota, Editorial Presença, Lisboa, 2001

sábado, 3 de maio de 2008

Resposta ao leitor

Ainda em relação à psicologia das sobrancelhas, um leitor perguntava-me:


Como utilizar esta metodologia em indivíduos que, sofrendo de tricotilomania, arrancam as suas próprias sobrancelhas?


Caro leitor,

É uma pertinente pergunta, a que me coloca.

De uma maneira geral, a tricotilomania é definida como patologia e, portanto, escapa às teorias cognitivistas das sobrancelhas, sendo que é um desvio à norma social.
Intrinsecamente ligada ao consumo de batido de morango e à condução de carros de alta velocidade em simultâneo, a tricotilomania pode também, em raras excepções, estar relacionada com o consumo continuado de leitão.

Respondendo à sua questão de forma objectiva, a metodologia que referi não pode ser usada em indivíduos tricotilomaníacos.
Contudo, pesquisas recentes da Universidade de Strains têm investigado a falta de sobrancelhas em correlação com a despersonalização, a apatia e o desinteresse social.

Embora não esteja ainda comprovado, pensa-se que a ausência de sobrancelhas possa estar relacionada com o distanciamento do eu em relação a si mesmo, com a ausência de emoções e com um tipo agudo de misantropia melancólica.