domingo, 28 de setembro de 2008


Caros leitores,

Diariamente, mais de 30000 indivíduos são atingidos nas pernas, nas costas e nos braços por dezenas de sacos, mochilas e outras malas enquanto viajam pacificamente pelas linhas do metropolitano.

Realizar-se-á depois de amanhã, dia 30 de Setembro, uma palestra sobre os efeitos das pancadas dos sacos e malas em indivíduos utilizadores do metropolitano.
Eu e o Doutor Lourenço tentaremos demonstrar, através de estudos científicos realizados nas universidades mais prestigiadas da Europa, os efeitos negativos das pancadas de sacos e malas na saúde mental dos indivíduos.

De facto, parece haver uma forte relação entre fazer viagens no metropolitano levando frequentemente com pancadas de sacos de compras e malas em diversas zonas do corpo e níveis elevados de stress fóbico composto, que podem no futuro dar azo a uma abulia repulsiva de grau seis.

A não perder, a partir das 19h no Auditório Borges Castro, Rua das Fanzílias Nº23.

sábado, 20 de setembro de 2008

Pessoas

Caros leitores,

Foram mais de dois meses estes em que, abnegando tudo, me evadi da cidade.
Evadi-me de Lisboa, depósito de toda a minha vida enquanto sepulcro de rotinas bafientas que me encarceravam num caixote, como roupas que já não servem e se atiram em saco preto com dois nós na arrecadação na cave e lá jazem condenadas para sempre.
Absolvi-me, inverti-me a cave que me estava destinada.

Percorri aldeias, auto-estradas, autocarros, cruzei-me com indivíduos superficial e mecanicamente: para lhes perguntar direcções, alugar um quarto ou pedir uma refeição. Confiei na minha solidão para me guiar, convencida de que era a forma mais nobre para me regenerar e encontrar a paz.

Até que, na claridade de um céu sem nuvens, quebrei o estar-se sozinho.
Para trás ficam amigos recém-chegados, sóis incandescentes, com quem descobri que os indivíduos não pisam a erva e as pedras que também pisamos para que apenas os olhemos com uma curiosidade sociológica distante.

Nas grandes cidades tendemos a avaliar os indivíduos sobretudo dessa forma, com alguma legitimidade até - poucos são os indivíduos civilizados, que não nos parecem carecer de toda a humanização e bondade subjacente ao Homem na sua primordialidade.

Porém, por detrás desse marasmo, descobrimos de vez em quando pessoas.
E, apesar de tudo, é isso que nos sustém. Ainda que enquanto miragem, esperança ou ideal.