sábado, 20 de setembro de 2008

Pessoas

Caros leitores,

Foram mais de dois meses estes em que, abnegando tudo, me evadi da cidade.
Evadi-me de Lisboa, depósito de toda a minha vida enquanto sepulcro de rotinas bafientas que me encarceravam num caixote, como roupas que já não servem e se atiram em saco preto com dois nós na arrecadação na cave e lá jazem condenadas para sempre.
Absolvi-me, inverti-me a cave que me estava destinada.

Percorri aldeias, auto-estradas, autocarros, cruzei-me com indivíduos superficial e mecanicamente: para lhes perguntar direcções, alugar um quarto ou pedir uma refeição. Confiei na minha solidão para me guiar, convencida de que era a forma mais nobre para me regenerar e encontrar a paz.

Até que, na claridade de um céu sem nuvens, quebrei o estar-se sozinho.
Para trás ficam amigos recém-chegados, sóis incandescentes, com quem descobri que os indivíduos não pisam a erva e as pedras que também pisamos para que apenas os olhemos com uma curiosidade sociológica distante.

Nas grandes cidades tendemos a avaliar os indivíduos sobretudo dessa forma, com alguma legitimidade até - poucos são os indivíduos civilizados, que não nos parecem carecer de toda a humanização e bondade subjacente ao Homem na sua primordialidade.

Porém, por detrás desse marasmo, descobrimos de vez em quando pessoas.
E, apesar de tudo, é isso que nos sustém. Ainda que enquanto miragem, esperança ou ideal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh, doutora teresa, quantas saudades! Da sua falta já todos carecíamos, certamente.
Tenho aguardado expectante o seu novo livro "Viagens e Estes Dias" anunciado como estando no prelo...para quando o lançamento? Será com certeza um sucesso.
Permita-me ainda que evidencie a origem etimológica de "pessoa": persona; máscara portanto. Pois sim!, descobrimos a cada passo máscaras que sustentam nossa existência.

Um abraço mental.