domingo, 11 de janeiro de 2009

Porque ninguém explicaria melhor

Caros leitores,
Se a falta de imaginação está comigo (juntemos-lhe três casos patológicos bastante complexos na minha secretária), resta-me deixar-vos uma pequena reflexão de um escritor e pensador fundamental:

Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim uma é fácil e a outra é difícil. A diferença é uma fórmula, a originalidade é uma forma ou mais do que isso um modo de se ser. Para se ser diferente vai-se ao alfaiate ou à modista. Para se ser original vai-se ter com Deus no momento de nos fabricar. É fácil escrever-se sem pontuação ou com pontos e vírgulas em vez de pontos finais, ou escrever com minúsculas depois desses pontos, ou atirar com as palavras à arrebatinha e dispô-las como caírem, ou escrever ondeado em vez de a direito, ou cortar a prosa aos bocados e dispô-los em vários tamanhos, ou deixar as páginas em branco ou a preto, ou fazer qualquer sorte de piruetas como um palhaço de circo. Agora o que é difícil é sentir de um modo novo, recriar um mundo por sobre o que já foi recriado, ver o que os cegos constitucionais não enxergam. Pôr seja o que for de pernas para o ar não deixa de ser o mesmo por estar ao contrário. E se se usarem óculos inversores, ele volta a estar de pernas para baixo. Mas o escritor ou qualquer artista original torna visível um dos possíveis invisíveis para uma nova visibilidade. E essa nova visibilidade é que é diferente na maneira profunda de o ser. Ou então diremos de alguém que não é original mas um original. É o que dizemos habitualmente e com suavidade de um tipo apancadado. Somente se o dizes de um palhaço da arte o apancadado és tu.

Vergílio Ferreira (no livro Escrever)

5 comentários:

Anónimo disse...

porra, nós a falarmos disso e tu encontras uma coisa sobre isso. encontraste quando? agora ou já tinhas encontrado antes e lembraste-te agora?

Anónimo disse...

Que feliz coincidência a Doutora ter ido de encontro a um texto que exprime tão bem, e permita-me a língua estrangeira, o je ne sais quoi que debatíamos há poucos dias entre o café da manhã e o pão de leite pré-almoço.
Se não me falha a memória tecemos comentários sobre dois artistas da nossa praça (não a do Comércio, bem entendido!) sendo que um deles - e permita-me a graçola deste seu compincha atento à linguagem das novas gerações - tem a cena e outro tenta tê-la.

Saudações especiais de corrida

Anónimo disse...

esta doutora n parece nada portuguesa, leva-me a desconfiar da sua existência enquanto doutora.
parece mais americana ou doutro país qualquer bué desenvolvido toda empenhada na luta contra a doença q aflige indivíduos e com casos patológicos em cima da secretária.
tipo, n há psicólogos com casos em cima da secretáriia, os casos vão pó armário do hospital ou do gabinete e n saem de lá, só quando o doente patológico volta à consulta é q saem mas é só para o psicólogo anotar umas frases em cima do caso q vem em forma de pasta feita de papel ou talvez dossier q serve de suporte físico das anotações.
tipo, em cima da secretária tão cenas tipo canetas e tapetes de rato e agendas pa marcar doentes, n estão casos investigáveis de doentes, não tamos no estranjeiro, tipo esta cena é bueda marada, a doutora teresa, se for doutora, é duma elite completamente desconhecida e q eu gostava de saber qual é pa ver se me junto a ela e me transformo num caso, é q até agora n passo dum número. nexxxxt

Francisco disse...

Quitérito Brás,

interessante comentário, o seu. Pergunto-me se, no seu comentário, o senhor que "tenta ter a cena" não será o b fachada? Interessante porque pensei o mesmo.

Aquele abraço,
F

Francisco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.