terça-feira, 30 de junho de 2009

COMUNICADO

Caros leitores,

SOU UMA FARSA.
AGORA PERCEBO QUE NÃO ACREDITO NA PSICOLOGIA.
POR ISSO VOU RETIRAR-ME E ABANDONAR A PROFISSÃO BEM COMO ESTE ESPAÇO.
A NOSSA CURA ESPIRITUAL TEM DE SER PROCURADA NOUTROS LOCAIS.
DESCULPEM-ME, COLEGAS DE PROFISSÃO, MAS HÁ COISAS QUE TEMOS DE ASSUMIR.
ASSUMO AQUI PUBLICAMENTE QUE NÃO ACREDITO NA PSICOLOGIA.

GUARDEM-ME NAS VOSSAS MEMÓRIAS COMO UMA ARAGEM VOLÁTIL.
ATÉ SEMPRE.

A sempre vossa,
Teresa

sábado, 25 de abril de 2009

Doutor Phil acompanha-me enquanto convalesço



Mas toda a minha recuperação se atrasa quando no fim de cada programa ele lhe dá a mão e saem os dois do estúdio e a plateia aplaude.

domingo, 19 de abril de 2009

Vicissitudes de um psicólogo

Caros leitores,

Encontro-me em convalescença. Um paciente, o Sr. António, indivíduo pertencente à máfia lisboeta, atirou-me à cabeça as obras completas de Freud há cerca de quinze dias quando estávamos a meio de uma sessão de psicoterapia comportamentalo-cognitivo-leninista.
Dar-vos-ei notícias assim que recuperar.

domingo, 15 de março de 2009

Testemunhos

Indivíduos de variadíssimas partes do mundo falam muito brevemente sobre os momentos mais felizes das suas vidas, sobre os mais tristes, sobre a família, sobre Deus, sobre o amor, sobre o dinheiro, sobre o sentido da vida e sobre outros temas pertinentes.
A RTP2 transmitiu estes testemunhos a semana passada.

Os leitores que não acompanharam mas têm interesse, leitores apaixonados pelos indivíduos, podem consultar o site e ver e ouvir alguns testemunhos: 6billionothers. Os testemunhos são legendados a inglês.

Doutor Lourenço, espreite porque vai adorar!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Vidas

Hoje no metropolitano sentei-me e fiz uma viagem de quinze minutos pela linha verde. Observei um indivíduo do sexo feminino falando ao telemóvel e, ao mesmo tempo, mexendo noutro telemóvel com a mão que estava livre. Este comportamento durou cerca de quinze minutos. Foi uma observação inédita presenciar um indivíduo utilizando dois telemóveis ao mesmo tempo.

Por vezes a vida é estática e triste e entretemo-nos contando os telemóveis que os indivíduos trazem nas mãos enquanto deslizam pelas linhas do metropolitano. Envergonhados, baixamos a cabeça e recolhemos às nossas casas. Pomos a cabeça na almofada e esperamos acordar menos tristes no dia seguinte.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Depressão

Foi durante as deambulações que costumo dar pela cidade às quartas-feiras que me deparei com um indivíduo que apresentava sintomas alarmantes de depressão.
O indivíduo chorava convulsivamente (algumas lágrimas chegaram mesmo a molhar os casacos dos indivíduos que passavam pela rua) e escondia-se num local alto e isolado, local que lhe permitia distanciar-se dos indivíduos, do contacto social e das próprias estruturas sociais. Quando tentei estabelecer diálogo com este indivíduo pude constatar que a sua cooperação era praticamente nula. O indivíduo recusava-se a ser ajudado.

Porém, persisti. Sentia-me no dever de ajudar um ser perdido nos meandros da depressão.
- O senhor precisa de ajuda, deixe-me ajudá-lo - gritava eu de cabeça inclinada para o céu - diga-me o que sente, diga-me o que o faz chorar, prometo-lhe que é confidencial e que se vai sentir melhor.
Mas o indivíduo recusava-se a cooperar.

Após algumas horas de observação pude concluir que o indivíduo habitava uma nuvem acinzentada de grande extensão, podendo este facto revelar que o indivíduo terá fugido de casa e da família estando agora a viver numa nuvem, desprovido das condições básicas de conforto para um ser-humano.
Com alguma insistência consegui fazer com que o indivíduo aceitasse cooperar e começar uma terapia cognitivo-comportamental baseada na neo-psicanálise. Passaram duas semanas desde o começo da terapia. O indivíduo continua a chorar todos os dias mas a terapia parece estar a ter um efeito positivo no estado emocional do indivíduo. Embora o indivíduo, por embaraço, se recuse a mostrar-me a sua cara estou em crer que a sua auto-estima vá melhorar bastante nos próximos meses e que talvez em Junho o seu choro cesse e possamos finalmente conhecer as caras um do outro.
Até Junho deslocar-me-ei todas as quartas-feiras à Rua José das Dores Pacheco, sentar-me-ei num banco, de guarda-chuva aberto, e bradarei aos céus questões e conselhos sobre a existência e sobre a depressão.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Sábado

Sábado triunfaremos sem patologias de verdade
Lançaremos dez planos em miragens existenciais
Ao sábado mudar-se-á a vida e a vontade
Seremos crianças brincando com os pais
Descansamos, reunimos e vamos ao mercado
Quando sonhando profetizamos os Sábados dos dias
Há laranjas, esquizofrenias e peixe lascado
E os indivíduos fazem malabarismo com melancias
Ah, reminiscência que oprime meu coração!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Jazem ainda na minha secretária

Três casos patológicos bastante complexos.

Partilho convosco, caros leitores, um deles:

Um indivíduo, estudante numa universidade que lecciona as Letras, apresenta uma potencial esquizofrenia atípica que anda de mãos dadas com a quantidade de livros, teorias e pensadores que tem estudado ao longo dos últimos três anos da sua vida. Este indivíduo tem episódios paranóides disténicos reminiscentes. Na consulta que teve lugar há dois meses e meio, o indivíduo apresentou-se envergando um fato-macaco azul escuro julgando viver numa distopia. Noutra consulta mais recente insistia em dialogar comigo somente por meio de citações: "como diria Nietzsche" ou "como diria Hegel". Na última consulta apresentava um estado avançado de ideias delirantes, uma linha de raciocínio bastante confusa misturando ideias do que me pareceu ser Heidegger, Simmel, Jankelevitch e Santo Anselmo. Além de todos estes sintomas, o indivíduo em questão sente-se recorrentemente perseguido pelos professores que leccionam as cadeiras afirmando que estes têm por hábito torturar lentamente os alunos desprovidos de contactos importantes na universidade, vulgo cunhas.

Torna-se complexo ajudar este indivíduo sem o encaminhar para o Doutor Lourenço. Contudo, gostaria primeiramente de tentar uma solução terapêutica para este paciente que não envolvesse medicação.

Aceito, caros leitores, as vossas sugestões na resolução deste caso.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Porque ninguém explicaria melhor

Caros leitores,
Se a falta de imaginação está comigo (juntemos-lhe três casos patológicos bastante complexos na minha secretária), resta-me deixar-vos uma pequena reflexão de um escritor e pensador fundamental:

Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim uma é fácil e a outra é difícil. A diferença é uma fórmula, a originalidade é uma forma ou mais do que isso um modo de se ser. Para se ser diferente vai-se ao alfaiate ou à modista. Para se ser original vai-se ter com Deus no momento de nos fabricar. É fácil escrever-se sem pontuação ou com pontos e vírgulas em vez de pontos finais, ou escrever com minúsculas depois desses pontos, ou atirar com as palavras à arrebatinha e dispô-las como caírem, ou escrever ondeado em vez de a direito, ou cortar a prosa aos bocados e dispô-los em vários tamanhos, ou deixar as páginas em branco ou a preto, ou fazer qualquer sorte de piruetas como um palhaço de circo. Agora o que é difícil é sentir de um modo novo, recriar um mundo por sobre o que já foi recriado, ver o que os cegos constitucionais não enxergam. Pôr seja o que for de pernas para o ar não deixa de ser o mesmo por estar ao contrário. E se se usarem óculos inversores, ele volta a estar de pernas para baixo. Mas o escritor ou qualquer artista original torna visível um dos possíveis invisíveis para uma nova visibilidade. E essa nova visibilidade é que é diferente na maneira profunda de o ser. Ou então diremos de alguém que não é original mas um original. É o que dizemos habitualmente e com suavidade de um tipo apancadado. Somente se o dizes de um palhaço da arte o apancadado és tu.

Vergílio Ferreira (no livro Escrever)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Caros leitores,

Com a ajuda do Doutor Lourenço, as minhas canções têm agora um lar:
www.myspace.com/doutorateresa