Descanso numa estalagem no Alto Alentejo. Sento-me numa velha cadeira de pernas desiguais e olho pela janela do quarto de onde vejo uma estrada vazia. O silêncio é quebrado quando, raramente, passam carros rápidos com indivíduos que não consigo chegar a ver.
A estalagem tem seis quartos mas, por nunca ter visto ou ouvido outros hóspedes, julgo ser a única pessoa aqui instalada. A estreita cama de madeira onde me tenho prostrado é escura e confortável, as paredes verde água do quarto transportam-me para um confronto interior onde me assaltam reminiscências do que tenho sido, do que os outros têm sido. O cheiro é o de um lugar há muito desabitado: convivem, de mãos dadas, o cheiro a madeira antiga, alguma humidade e um aroma a produtos de limpeza de madeiras.
Sempre me servi das férias para viajar. Observar paisagens e indivíduos é observarmo-nos a nós mesmos, é a aparição daquilo que andou adormecido o resto do ano e o resto da vida.
Viajo e é como se pesasse sobre mim o peso de um balanço necessário, um fechar de ciclo que acaba com a morte - morte que é sobretudo renovação.
Piso os lugares mais recônditos e longínquos para, através do isolamento que é também envolvimento distante, chegar ao apaziguamento e à acalmia e a uma tão aguardada renovação interior.
sábado, 19 de julho de 2008
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1 comentário:
os indivíduos as reminiscências as mãos dadas
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