As rodas deslizam enquanto o nosso autocarro passa a ponte. Ultrapassamos camiões menos velozes. Surgem mãos envelhecidas e escuras, penduradas nas janelas e apoiadas no volante. Mãos com história, desgastes e alianças.
Está sol. O mar reflete o céu e a água parece azul.
Os campos por onde passamos já foram verdes e vivos, espantados e recém-chegados ao mundo. Já foram amarelos, perderam a esperança, queimados pelo sol.
Onde antes havia uma alegria primordial de nascimento e de espanto, surgem-nos desinteressados desmotivados campos cansados e castanhos, em luto antecipado para a morte que é a chegada do Outono.
É a hora do rescaldo, do balanço e da recolha. A terra está curvada, virada para dentro, em retiro espiritual.
Passamos um lago castanho. Outro camião. Outra mão estendida num relógio metalizado.
A beleza dos cactos!
No acumular do castanho da paisagem, subsistem pedaços verdes de vegetação - responsabilidade da Primavera que ainda persiste e que persiste sempre. Esperança das folhas, dos insectos e dos Homens.
Há casas ao longe, há vida por entre as árvores e por entre a vegetação estéril. Que vidas terão os que ali habitam?
Imagino-os a esta hora talvez a verem o telejornal na cozinha enquanto almoçam e dançam três moscas acima das suas cabeças.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
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